Que título esdrúxulo pra falar de dança, não?
Mas
aposto que em algum momento da sua vida você viu uma bailarina, seja ela quem
for, fazer um movimento de forma impecável aos seus olhos e você sentiu uma
“invejinha” e por dias, meses e anos você tentou reproduzir aquele movimento
exatamente daquele jeito... E se frustrou... Estou certa?
É preciso
entender e aceitar que os nossos corpos são diferentes, repletos de
possibilidades e limitações. Nossa história está toda contada ali, na “nossa
casa”, cada linha de expressão do nosso rosto, cada cicatriz que altera a
funcionalidade do revestimento da nossa pele. Ou seja, está tudo ali impresso,
marcado, contado.

Se
aceitarmos as nossas particularidades (antropometria, biomecânica, cinemetria,
motricidade*) - sejam elas nossa força muscular (deficitária ou exacerbada),
alongamentos (também deficitário ou exacerbado), desvios posturais, “marcas” da
nossa história expressas em nosso corpo – fica fácil compreender que a busca
pelo igual será frustrante.
Vamos pensar no esporte. A
busca de um "talento esportivo" é muito presente e levada com grande
seriedade. O que significa que o prognóstico de sucesso de um atleta depende de
uma grande variedade de características genéticas (morfológica e metabólica),
além de considerar os aspectos psicológicos, cognitivos e sociais. Também é incontestável
que as conquistas de recordes não são apenas dos atletas com genótipo
fenomenal, mas do aperfeiçoamento biomecânico dos movimentos, da metodologia de
treinamento, inclusive das altas capacidades de reserva do aparelho locomotor
de cada indivíduo.
Para
Bompa (2002) um bom desempenho dependerá: 50% da capacidade motora; 10% da
capacidade psicológica; 40% dos aspectos morfológicos. Isso significa que
para um atleta, por exemplo, participar dos Jogos Olímpicos ele enfrentou
diversas avaliações.
Agora vamos voltar para a
dança. Na escola Bolshoi, a audição é feita por meio de uma aula de dança, de acordo com a modalidade escolhida
pelo candidato, e uma avaliação física. São observados o nível técnico,
equilíbrio, musicalidade, giros, saltos e elasticidade do candidato, além do
uso das sapatilhas de ponta para as meninas que disputam vaga na dança
clássica.
Os
dois exemplos acima reforçam a importância que as características do nosso
corpo tem para a execução de movimentos, sejam eles na dança ou no
esporte. Isso não significa que as
nossas particularidades físicas e motoras deficitárias devam ser consideradas
uma sentença de morte. Por
que não trabalhá-las?
Encontre
cada pedacinho dessa história e transforme em movimento, num movimento que será
único e só seu. É um processo. Um caminho acompanhado de desafios, mas as
descobertas podem ser surpreendentes.
“Ah,
quando eu me mexo assim eu sinto dor, não consigo!”. Então, não faça! Isso pode
lesionar. Faça outra coisa, elabore outro mexer, mas não pare, continue.
Conheça o
seu corpo, habite-o. E faça com que a sua grama seja linda, verde, única e SUA!
Antropometria
- Ciência que estuda as medidas de
peso, tamanho e proporções do corpo
humano. Segundo o protocolo da ISAK (International Society of the
Advancement of Kinanthropometry): envergadura, estatura, alturas,
perímetros, dobras cutâneas, diâmetros e longitudes.
Biomecânica - O estudo da estrutura e da função dos sistemas
biológicos utilizando métodos da mecânica. Neste caso a mecânica de cada corpo.
Cinemetria - metodologia biomecânica que se
destina à obtenção de variáveis cinemáticas para a descrição de posições ou
movimentos no espaço.
Dinamometria - Metodologia biomecânica para obtenção
de variáveis de força e distribuição de pressão, e a interação das forças do
corpo e o meio.
Bibliografia:
HAAS et al. Estudo antropométrico comparativo entre meninas espanholas e brasileiras praticantes de dança. Revista Brasileira de Cineantropometria & Desempenho Humano.Vol. 2, Número 1 – p. 50-57, 2000.
HORTA, L. Prevenção de Lesões no Desporto. Editora Leya. Rio de Janeiro, RJ. 2011.
LANARO FILHO, P. , BÖHME, M. T. S. DETECÇÃO, SELEÇÃO E PROMOÇÃO DE TALENTOS ESPORTIVOS
EM GINÁSTICA RÍTMICA DESPORTIVA: UM ESTUDO DE REVISÃO . Rev. paul. Educ. Fís., São Paulo, 15(2): 154-68, jul./dez. 2001
BOMPA, Tudor O. Periodização: teoria e metodologia do treinamento. 4. ed. São Paulo: Phorte, 2002.
http://www.escolabolshoi.com.br/bolshoi/Portugues/detInstitucional.php?cod=16, visitado em 06.05.14